Mulheres, vivam a sua arte!

Hoje, Dia Internacional da Mulher, é um dia para reflexão. Este dia surgiu através de muita luta vinda de mulheres trabalhadoras desde o século 19, que enfrentaram a ordem vigente da época em busca de melhores condições de trabalho, além de outras pautas como o direito ao voto. Elas se negaram a ocupar uma posição subalterna no qual foram jogadas tendo seus direitos arrancados para servir um sistema cruel que tirava toda sua autonomia.

E, ao longo de todo esse tempo, mulheres incríveis sofreram um apagamento histórico de suas criações. Onde estavam as cientistas, as inventoras e as artistas durante toda a história? Quantos nomes você consegue lembrar? Como bem disse a escritora britânica Virgínia Woolf em seu livro Um teto todo seu “Ao longo da maior parte da história, Anônimo foi uma mulher”; e resgatar essas histórias é o que nos ajuda a entender o nosso caminho até aqui.

Falando, então, de Brasil, cito aqui algumas artistas: Chiquinha Gonzaga, compositora e pianista carioca responsável pela primeira marchinha de carnaval “Ó Abre Alas”,  e a primeira mulher a comandar uma orquestra no país.

Nora Ney, artista consagrada como uma das melhores intérpretes de samba-canção e uma das primeiras artistas a gravar Rock in Roll no Brasil, com a música Rock Around the Clock, de Bill Haley, em 1955, cujo feito só foi reconhecido quase no final de sua vida. E a lista vai longe.

E claro, não podemos esquecer da primeira DJ do Brasil, Sonia Abreu, que iniciou sua carreira aos 13 anos de idade, em 1964, construindo uma bagagem que fazia dela também uma radialista, produtora e cantora. Uma grande pioneira e inovadora da cena musical em São Paulo, criou grandes projetos como o Ondas Tropicais, que era uma rádio itinerante em uma Kombi onde ela levava boa música por vários cantos da cidade.

Infelizmente, Sonia faleceu em 2019, mas continuará sendo eterna para a história da música eletrônica brasileira.

DJ Sonia Abreu – Foto reprodução internet.


O que elas têm em comum? Desafiaram a sociedade vigente da época, passaram por cima de todo o conservadorismo para irem em busca do que fazia seus corações baterem mais forte: a música.

Portanto, hoje, trazendo esse contexto para o Dia da Mulher, eu peço: mulheres, vivam a sua arte! Libertem a artista, a cantora, a escritora. a musicista ou qualquer outra vida criativa que vive aí com você. Este é o seu lugar. Não deixe o medo de lado e caminhe, pois a jornada é recompensadora. Sempre é. Não tem como ser diferente, uma vez que estamos indo de encontro à nossa essência, ao que alimenta a alma. Sua alma está com fome de quê?

Que possamos, com isso, retribuir a todas que vieram antes de nós expressando um pouco mais de nós mesmas através daquilo que nos faz vibrar. Que possamos recuperar o protagonismo que também é nosso em um mundo que ainda tenta, de uma forma ou de outra, nos deixar nas sombras.

Viver a nossa arte é a maior revolução.

E para finalizar, coloco aqui um trecho grandioso da autora Clarissa Pinkola Estés, em seu livro Mulheres que correm com os lobos para você refletir:

“Alguns dizem que a vida criativa está nas ideias; outros, que ela está na ação. Na maioria dos casos, ela parece estar num ser simples. Não se trata do virtuosismo, embora não haja nada de errado com ele. Trata-se de amor por algo, de sentir tanto amor por algo – seja uma pessoa, uma palavra, uma imagem, uma ideia, pelo país ou pela humanidade – que tudo o que pode ser feito com o excesso é criar. Não é uma questão de querer; não é um ato isolado da vontade. Simplesmente é o que se precisa fazer.”

Foto da capa: Livro Ondas tropicais – biografia da primeira DJ do Brasil: Sonia Abreu.