Confira entrevista com Ana Flor, DJ conta sua jornada representando a cena LGBTQIA+ no Brasil e no mundo

Ana Flor foi a terceira mulher a se tornar residente do maior club LGBTQIA+ brasileiro, The Week Brazil. A DJ ocupa há mais de 10 anos essa residência de grande sucesso, mas ela não parou por aí.

Ana também representa o selo internacional Kluster, de Madrid, e leva sua música com muita personalidade para várias cidades do Brasil e de outros países pelo mundo afora.

Ana Flor na The Week Brazil.

A carioca participou do #LiveComElasMothers Day Edition, com sua parceira Bárbara, falando do sonho de serem mães juntas. E tivemos a alegria de bater um papo com ela sobre a história de sua carreira, representatividade feminina na cena e de como foi receber os desafios ocasionados pelo vírus da Covid-19, por estar vivendo atualmente em Madrid.

Confira, com exclusividade, o bate-papo que tivemos com a DJ Ana Flor.

A maioria das pessoas não sabem que você vem de uma infância musical, pois tocava flauta doce transversa. Fale um pouco desta época, também de como tudo isso te ajudou, anos depois, na sua carreira como DJ.

Eu tinha menos de 10 anos quando minha mãe me levou ao Teatro Municipal para ver uma orquestra e conhecer melhor os instrumentos musicais. Eu queria aprender algum e escolhi a flauta transversa. Era fácil de transportar, poderia abraçar temas clássicos e contemporâneos, me chamou bastante atenção. Tive aulas de música por dois anos, e toda essa ambientação na teoria musical me ajudou a ter ritmo, e “ouvido”. Aprender a mixar foi algo bem fácil por já ter essa base. As mixagens acabavam mais harmoniosas, porque o ouvido já estava mais treinado para o tom mais próximo. Hoje a mixagem por tom é bem mais simples com o recurso de programas que classificam as músicas e apoiam esse processo.

A realidade da mulher DJ era totalmente diferente do que estamos vivendo hoje. Principalmente se levarmos em conta que a cena LGBTQIA+ tem suas particularidades. Como foi a escolha de qual público você iria focar? E como era a cena gay antigamente?

Sim, era bastante! Para ser sincera, eu não escolhi uma cena. As coisas foram acontecendo e me levando para este público, rs. Minha primeira oportunidade como DJ foi em um club no RJ que fechou alguns anos atrás, o 00 na Gávea. Era uma festa gay, então já abri uma porta neste ambiente. Lá eu tocava house. Mas, em seguida, recebi oportunidades para tocar em lugares como o Dama de Ferro, também no RJ. E além da sonoridade (lá eu podia explorar o eletro e o tecno), o público era bem diferente. Era o que chamávamos de “alternativo”, não era necessariamente gay ou hetero. As pessoas iam pela música, pelo lugar, para se encontrar depois de outras baladas. A cena gay de antigamente, eu diria de pelo menos 10 anos atrás ou mais, era de clubs menores, menos “close” e a música como ponto de atenção. Dava pra contar nos dedos de uma das mãos as mulheres DJs! Hoje são muitas! Lembro da época em que o DJ nem aparecia, a cabine era escondida. As pessoas iam para ouvir boa música, conhecer pessoas novas… Isso faz falta! Os exageros eram menos frequentes nas festas, acho. Não lembro de saber da existência de enfermarias nesses clubinhos. As festas maiores eram mais esporádicas e não tinham festivais como hoje o ano todo. As pessoas tinham mais paciência para a criatividade do DJ. As músicas também eram produzidas de outra maneira, eram mais longas, tinham um break dramático muitas vezes. E o público curtia. Sinto um pouco de falta dessa entrega paciente em algumas pistas. A tendência que noto são pessoas mais ansiosas para que tudo aconteça logo. As mixagens precisam ser mais dinâmicas, gerar reações mais imediatas. Não estou generalizando, mas é uma tendência.

Ana Flor na 00 – Gávea/RJ.

Você é uma das DJs mulheres mais antigas da The Week, estando a quase 10 anos na casa. Conta pra gente como essa história se iniciou, e como é estar dentro deste selo por tanto anos? Quais foram as suas principais dificuldades e vitórias para acompanhar o crescimento da casa neste grande período?

Hahaha, verdade. Fui a terceira DJ mulher da casa. A Grá e a Ana Paula foram as primeiras. Eu morava no Rio e já era DJ quando a The Week inaugurou lá. Alguns anos depois, os residentes iniciais foram saindo e fui convidada para tocar na pista 2. Eles estavam experimentando DJs da cena carioca, todos os sábados nomes novos tinham suas oportunidades. E fui voltando, voltando, até esse movimento acabar.  Durante alguns meses fiquei cobrindo os residentes cariocas quando tinham folgas. Menos de um ano depois fui convidada para tocar na Pool em SP. O gerente na época achava que meu som combinava com uma Sunset e me deu esse oportunidade. Foi uma conexão imediata! Fiquei impressionada com a receptividade das pessoas ao meu som, e o carinho comigo. Eu passei, então, a ser residente no RJ e SP. Isso quando os intercâmbios de DJs eram raros. Me sinto abençoada e agradeço até hoje por isso! Pude conviver com sonoridades diferentes, compor line ups em horários diversos e aprender muito com tudo isso. Na minha opinião, acho que essa foi a maior vitória que tive até hoje: a possibilidade de poder estar em qualquer time e em qualquer horário. Isso deixa a equipe mais confortável, acho. Minha maior dificuldade era conciliar minhas duas profissões. Eu trabalhava, até um ano atrás, na área da saúde. Tinha que estar dentro do hospital muito cedo na segunda-feira. Dediquei anos estudando, fiz especialização e MBA e minha vida era uma loucura. Saía cedo demais, voltava tarde exausta e tinha que ter tempo para me manter atualizada na música e viajar a trabalho. Me dediquei 200% para compor esse time de talentos de forma digna. Eles sempre contaram com minha disponibilidade e dedicação. A falta de tempo adiou muito meus primeiros passos na produção musical. Eu sabia que precisava evoluir nisso.

Ana Flor com Grá Ferreira.

Você já se apresentou em vários continentes do planeta. Pensar nesta frase deve te trazer diversos sentimentos e lembranças. Fale um pouco sobre isso, e nos conte quais as diferenças que você gostaria de apontar entre as festas que você toca fora do país e aqui no Brasil.

Eu acho uma loucura! Sinceramente, nunca imaginei isso na minha vida. Ter a oportunidade de sair da sua zona de conforto, onde quer que seja, já é algo incrível. Mas sair do país é uma experiência diferente, traz um senso de responsabilidade ainda mais assustador. O investimento para trazer uma atração internacional é grande, a expectativa também. Levamos nosso nome, mas também dos colegas de selo e de profissão brasileiros. Isso é bem sério! Viajar a trabalho é sobretudo a chance de melhorar como profissional e como pessoa. Ouvir coisas diferentes, perceber comportamentos novos, formas diferentes de se divertir, de interagir, é algo mágico. Já toquei em lugares como o Oriente Médio e voltei com meus conceitos completamente mudados sobre a cultura deles. Falando de diferenças, de forma geral, a duração das festas costuma ser menor. Muitos clubs encerram suas atividades cedo para o padrão brasileiro. Na Irlanda, por exemplo, as festas acabam às 3h. Em Paris a esta hora as pessoas estão ainda chegando. O número de pessoas também muda. Nenhum club gay no mundo reúne todo sábado quase 5 mil pessoas como vemos na The Week SP. A forma de demonstrar empatia com o DJ e se divertir muda bastante também dependendo do lugar. O latino gesticula mais, dança de forma mais efusiva. Isso confunde a gente, já toquei em lugares que pensei das pessoas não estarem gostando. Mas recebi feedbacks incríveis e voltei mais vezes. Ufa! As festas no Brasil são mais cheias, mais intensas, mais longas. Normalmente são mais DJs por noite, e sets de 2h mais ou menos para cada um. Fora do país é muito comum ter apenas o residente e você. Ou apenas você a noite inteirinha. Pode parecer ruim, mas é incrível! Contar uma história do início ao fim é algo maravilhoso!

O público mais jovem está mais acostumado a ver as mulheres ocupando espaços que antes eram mais masculinos, com certeza.” Ana Flor.

Hoje você também representa um dos principais selos europeu, a KLUSTER, que te levou a conquistar mais cidades pelo mundo a fora. Como surgiu essa parceria? E como é trabalhar para dois grandes selos?

Na verdade, o convite para tocar na Kluster foi o pontapé inicial para a maior mudança da minha vida. Fui convidada para tocar no World Pride, em 2017, na festa deles aqui em Madrid. Eu era a única mulher da programação inteira do Pride. Fiquei muito empolgada! A Kluster é um club bem masculino, e estar ali era algo inesperado para mim. A festa foi linda, voltei apaixonada por Madrid e por eles. Três meses depois do Pride eu já estava de volta ao club, e assim começou uma relação de carinho, confiança e respeito. Ano passado decidi morar na Espanha sem ter nenhuma garantia de trabalho. Mas ganhei 3 datas logo no primeiro mês e um convite para exclusividade já renovado este ano. A casa é muito parecida em termos de estrutura com a The Week. O soundsystem é fantástico e a iluminação também. Por ser um dos maiores e melhores clubs gays da Europa, me sinto privilegiada pela parceria. Não tenho problema algum em fazer parte da Kluster e da The Week. Respeito os acordos feitos e assim tudo dá certo.

Mas não acho que foi a Kluster que me abriu possibilidade fora. Estar completamente dedicada a música, ter possibilidade de viajar, estar estrategicamente localizada e ter uma profissional trabalhando comigo exclusivamente nos bookings fez muita diferença. Eu já tinha tocado em Paris, Portugal e demos continuidade a este trabalho na Europa. Os convites ano passado para me apresentar em Nova York, e hoje fazer parte do time Alegria Events, do Ric Sena, é também algo bem expressivo. Todas essas parcerias grandes que conquistei dão ainda mais credibilidade ao trabalho e abrem portas novas. Mas não vivo de selo e não gosto de me apoiar neles. Normalmente não deixo os contratantes usarem minhas residências nas suas divulgações.

Ana Flor em NY.

Hoje você mora na Espanha, em Madri. Conte pra gente os principais pontos que te fez mudar de país.

Segurança, qualidade de vida, respeito às diferenças, localização na Europa, vida noturna, e clima. Me apaixonei desde o primeiro dia que pisei aqui, foi química. A cidade é plana, favorece atividades à pé ao mesmo tempo que conta com um transporte público excelente. Os espanhóis são intensos como nós, e isso também me cativou.

Sabemos que vem muita novidade de Ana Flor por aí. Principalmente produções próprias e com grandes colaborações. Fale como surgiu a vontade de se tornar uma DJ produtora, visto que ainda temos poucas meninas nesta área.

Logo que eu entrei para a The Week percebi que seria importante produzir. Mas ser produtora musical é abraçar uma outra profissão, e como qualquer outra, demanda investimento de tempo para estudar e praticar. Ninguém vira produtor de uma hora para outra, e eu sabia que levaria anos até poder de fato construir coisas coerentes e tecnicamente bem feitas.Dei o primeiro passo fazendo um curso de Cubase (programa de produção) há uns 9 anos atrás no Rio de Janeiro, na Sygno em copacabana. Eu não tinha tempo para praticar, já trabalhava muito e fazia especialização, por isso não desenvolvi habilidades e pouco aproveitei. O que eu fazia algumas edições bem simples usando outro programa, o Acid Pro. Meu primeiro mashup foi “Among the Clouds” do Robson Valenti, e em seguida “Bad Things da Lal Meri”, usando uma acapella do Eddie Amador. Toquei bastante as duas músicas na The Week Rio. Depois fui para estúdio com o Dj Romullo Azaro  e uma cantora chamada Juliana Feliciano gravar “Linger”, do Cranberries. Fizemos uma versão Sunset dela que marcou muitas apresentações minhas na Pool. Foi minha primeira música em colaboração. Tínhamos as ideias, sabíamos o que queríamos mas não sabíamos como executar tudo e tivemos ajuda de um engenheiro de som para o remix.

Ana Flor durante a gravação de Linger, com o DJ Romullo Azaro.

Há dois anos, se não me engano, comecei a mexer no Ableton. Um grande amigo e talentoso produtor, Leanh, me deu uma visão geral do programa e o suporte inicial para explorar a plataforma e dar os primeiros passos. Fizemos alguns mashups juntos, entre eles: “Pagano”, Stewart & Ennzo; “Back To Iberican” (Ana Flor & Leanh PVT Mash!) – Belladonna & Danny Tenaglia; “Transmission Elementos” (Ana Flor & Leanh PVT Mash!)- Sono, Mor Avhrahami; “Keep Control” (Ana Flor Mashup). Aproveitei o embalo e fiz intro para o Eterna com o tema Happy To Be Gay e outras edições simples para uso pessoal também, todas privates.E este ano iniciei outro curso, agora com o  DJ e produtor VMC. Finalizamos nosso primeiro remix juntos e vamos escolher um segundo tema como parte do aprendizado.

Não menos importante, em março deste ano, vivenciei minha primeira colaboração internacional. Tive o prazer de fazer uma versão para a música “Duro” da Las Bibas com o Pedro Pons, famoso produtor espanhol. Eu já tinha recebido convite para outras parcerias internacionais antes, mas só agora me sinto mais pronta para somar.

E para finalizar, com muita alegria, estou terminando meu remix para “Sunshine On My Shoulders” do Steven Redant. Quando ele me convidou, meses atrás, e disse que adoraria uma versão minha, fiquei extremamente honrada. Não consegui atender o prazo para o lançamento, por dificuldades operacionais mesmo. Fiquei com o desafio, e estou orgulhosa do que vou entregar.

Ana Flor com André Almada no Festival CARIOCA SKYVIEW. Foto por @igoramota.

As mulheres vêm se destacando na cena LGBTQIA+, assim como em outras profissões diferentes, e você tem anos de carreira consolidada na cena. O que você pensa deste momento de destaque feminino? E o que você procurou fazer nestes anos para se adaptar?

Eu estou super orgulhosa das meninas! Quando comecei há 15 anos atrás éramos muito poucas, especialmente na cena gay. Lembro de ter trabalhado com um agente que me dizia para ter paciência. A preferência nas contratações dos clubes eram masculinas, DJs descamisados e bonitões. Eu achava isso um absurdo, ficava indignada com este tipo de informação. Saí da agência, inclusive. Para ser bem sincera, não acho que fiz muitas coisas para me adaptar. Foi natural a forma como fui observando necessidades novas surgindo. No começo eu era focada apenas na música, bem do tempo em que a imagem ainda não era algo tão trabalhado pelo profissional DJ. Aos poucos senti a necessidade de direcionar minha energia para me entender como artista, buscar uma identidade visual. Posso dizer que este momento coexistiu com minha entrada 10 anos atrás para a The Week. Tive suporte de grandes profissionais e marcas de roupa para apresentações e ensaios. Lembro de chegar todo domingo nas Pools com algo diferente de visual. Esse é e sempre foi meu maior desafio: equilibrar a Ana carioca, gay, mais clássica, básica e monocromática, com a Flor artista. Minha residência na Pool de SP também me tirou da zona de conforto musical. Eu gostava de fazer um som mais leve, europeu. De repente, me vi precisando fechar a festa depois de back to backs de gigantes, tipo Cecin e Pacheco. Hahaha… Eu ia para o banheiro, ficava horas apavorada antes de tocar! Agradeço por isso até hoje, aprendi muito precisando trocar de horários e tendo que me adaptar a qualquer posição no line up.Meu maior presente de gênero, assim dizendo, foi da Kluster. Fui prestigiada com o convite inicial para tocar num World Pride só de nomes masculinos, e hoje sou a única mulher que toca para o clube.

Sabemos que existe uma cultura de ter mais homens no line up da cena gay, ou até mesmo, apenas homens. Isso ainda é muito comum fora do Brasil, e você se apresenta bastante fora do país. Fale um pouco sobre essa triste realidade, e como o publico mais jovem vem respondendo a essa questão

A prevalência de nomes masculinos ainda é uma realidade sim, principalmente fora do Brasil. Mas acredito que o número de homens ainda é tão maior que fica complicado avaliar. Não gosto de ver as mulheres como vítimas injustiçadas na cena. Estamos pouco a pouco mudando a forma como estamos sendo percebidas, e os contratantes estão respondendo a isso e gostando. O mundo está aos poucos se abrindo mais para diferenças. A Ásia, por exemplo, ainda é um grande desafio. Mas já deram também seus primeiros passos. O público mais jovem está mais acostumado a ver as mulheres ocupando espaços que antes eram mais masculinos, com certeza. E parece bem aberto e feliz com isso. Entretanto minha própria trajetória e de outras djs como a Ana Paula, mostra que os antigos também recebiam bem uma proposta feminina na cabine. Nunca senti preconceito vindo do público.

“Que possamos ter calma, sabedoria e paciência para enfrentar ainda tudo que está por vir. Que possamos nos solidarizar, genuinamente.” Ana Flor.

Não poderíamos deixar de falar dessa situação que estamos vivendo por conta da Covid-19. Hoje você mora na Europa, e o susto começou primeiro por aí. Fale como essa triste situação afetou a sua área e como tem sido os seus dias em confinamento obrigatório?

Logo no começo de março fomos confrontados aqui em Madrid com as informações sobre este vírus e os estragos que vinha fazendo. O governo determinou o início do isolamento e encerrou atividades profissionais com a minha logo de cara. Com a evolução da pandemia, uma onda de cancelamentos de festas. É desesperador ver tudo que estava planejado para 2020 ruir em menos de um mês e o calendário esvaziar sem nenhuma expectativa de retorno. Eu sempre tive dois trabalhos, e desde que moro em Madrid, vivo da música. Me vi com zero ingressos do nada, e precisando cumprir com responsabilidades aqui em euro. Uma loucura! Além da preocupação financeira, vivemos um massacre emocional vendo a Europa devastada pelo vírus. Passamos a não assistir mais tantos noticiários e a focar energias em nos manter positivas para sobreviver. Passei dias sem vontade de fazer nada, deprimida. Fazer exercícios físicos em casa, rezar, manter contato com familiares e amigos e respeitar esse tempo de luto foram fundamentais para recuperar a inspiração e buscar alternativas à falta de trabalho. Nos momentos mais difíceis das nossas vidas somos impulsionados a nos reinventar. E essa pandemia está nos dando oportunidades maravilhosas de reflexão, transformação. Quase todos nós DJs começamos a reagir ao confinamento, cada um do seu jeito. Mas no começo, de forma individual. Ver campanhas para apoio coletivo surgirem mostrou que somos muito mais que nomes em flyers. Somos times, e nos apoiando nos fortaleceremos. Outra coisa maravilhosa é ver que relação público-profissional é tão profunda que é capaz de emocionar. Fico extremamente desconfortável com essa ideia de doação. Sempre trabalhei e recebi caches por isso. Me sentir vulnerável e ver a necessidade de abrir espaço para contribuições alheias foi algo bem complicado de enfrentar. Tive que por meu orgulho no bolso. Mas recebi apoio de pessoas que acompanham meu trabalho, recebi mensagens lindas de solidariedade que me fizeram entender essa troca melhor e enxergar muita dignidade no processo. Vi que conquistei pessoas por quem eu sou, e isso criou laços inimagináveis. Eles valorizam e entendem o trabalho que entrego, o carinho que ponho ao desenvolver um novo podcast para que todos sintam-se felizes. Sinto que as relações estão sendo fortalecidas, e isso é muito especial. Nos terrenos mais improváveis nascem flores. Que possamos ter calma, sabedoria e paciência para enfrentar ainda tudo que está por vir. Que possamos nos solidarizar, genuinamente. Que as relações sejam menos egocêntricas. Que toda essa tecnologia hoje disponível possa ser utilizada da forma certa, para aproximar pessoas, não afastar e isolar. E que possamos nos respeitar mais em todos os sentidos! Não vejo a hora de voltar às pistas e agradecer por todos vocês terem me dado a força que eu precisava para aguentar tantas incertezas. Vamos trocar ainda mais amor.

Confira o set que Ana Flor preparou especialmente para o @top100djanesbrasil.