Feminismo e música: o poder do coletivo Uh!Manas TV

Irmandade. Talvez não haja outra palavra que descreva melhor a união de mulheres que cria uma enorme rede de apoio entre si para que, juntas, alcancem o objetivo em comum: fazer revolução. A irmandade entre mulheres é um laço poderoso, e não foi à toa que ao longo do tempo fomos socializadas para nos encararmos como inimigas; o patriarcado precisa dessa rivalidade para continuar vivo, e a história nos mostra que mulheres unidas são a maior potência revolucionária que existe. 

E cá estamos nós, desconstruindo tudo aquilo que nos foi dito que era o certo e buscando ocupar espaços que também são nossos, inclusive na música. Foram a partir dos questionamentos sobre esse mercado, e ainda no contexto da pandemia, que surgiu o UH!Manas, projeto criado por oito mulheres, de artistas a produtoras culturais: Carlu, Cecyza, Iasmin Ribeiro, Julia Weck, Mary G, Milena Camilotti, Paula Chiaretti e Tata Ogan. 

Ato político

Lançado em Julho de 2020, o Uh!Manas surge da necessidade de ver mais mulheres ocupando espaços na música, principalmente no recorte da discotecagem. Com o cenário de pandemia e lockdown, as lives tomaram conta da internet, e os DJs tiveram que se adaptar à nova realidade para continuar mantendo sua arte viva. 

A plataforma Twitch, que a princípio era voltada para gamers, se tornou a queridinha dos artistas – uma vez que as transmissões pelo Youtube estavam sendo derrubadas por direitos autorais – e vários eventos online começaram a acontecer, porém, o cenário era e é sempre o mesmo: somente homens marcando presença em todas as programações. Aí você pode dizer que viu mulheres participarem também… mas ainda assim não deixa de ser em uma proporção bem inferior da que gostaríamos. 

E isso tem nome: invisibilização. O trabalho de mulheres ao longo dos tempos sempre foi apagado, ou questionado, desacreditado; e a insatisfação com essa realidade que fere – de um jeito ou de outro – leva a uma atitude: a ação. Somente a partir de um trabalho em conjunto entre nós é que, de fato, mostraremos à sociedade que nós quem escolhemos o lugar que queremos ocupar.   

Falar de invisibilização é falar também da falta de recursos. Tripla jornada, falta de oportunidades no mercado, falta de dinheiro para investir; tudo isso contribui para que mulheres não atinjam uma visibilidade consistente: “A gente sabe, principalmente trabalhando com mulheres, que na verdade a transmissão ao vivo não é para todas. E aí quando a gente fala do processo de invisibilização das mulheres, isso de certa maneira influencia no tanto de equipamento que a gente conquista ao longo da vida, no tanto de horas de estudo que a gente tem para colocar ali, do tanto de tempo que nós temos para dedicar. Nós temos mulheres que fazem parte da nossa programação que tocam com o filho do lado […] e que saem do trabalho, tocam e fazem uma terceira jornada com o filho […] Nós do Uh!Manas TV contamos com muito mais mulheres do que aparece na tela. Já se envolveram em torno de 130 mulheres, mas dessas 130 mulheres, 70, 80 conseguem de fato colocar uma transmissão no ar […]”, pontua Chiaretti.

Toda essa resistência é um ato político, e o coletivo mostra com dados o triunfo desse caminho. Em apenas 1 mês o coletivo teve:

  •  195 horas de programação transmitida pela Twitch;
  •  35 horas de programação hospedada;
  •  Já contava com 82 artistas do Brasil inteiro, passando pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal , Mato Grosso do Sul, Paraíba, Goiás, Pará, Santa Catarina, Amazonas;  contando também com conexões internacionais feitas com os países Romênia, Peru, Argentina e Los Angeles.

Um alcance expressivo que marca com maestria o início de uma grande jornada. “Além de estarmos nos fortalecendo, estamos mudando o comportamento de uma parcela da sociedade que vivemos e isso, politicamente e historicamente falando, é importantíssimo, contém muita força!”, comenta Paula Chiaretti. 

O melhor de tudo: tem programação todo os dias da semana!

Vídeo: Instagram Uh!Manas

Indicações

Hoje o coletivo já conta com mais de 110 integrantes, tanto do Brasil quanto do exterior, e naturalmente foi chamando a atenção do mercado, mostrando sua força através de uma rede bem estruturada que chega ao conhecimento de outras manas pelo famoso boca a boca.

O resultado? Em 2020 o coletivo foi indicado na premiação de um dos eventos mais importantes da música voltado para o mercado feminino brasileiro, o Women’s Music Event, na categoria Inovação na Web; e também na SIM São Paulo (Semana Internacional de Música de São Paulo), um dos prêmios da indústria da música mais importantes da América Latina, na categoria Projeto do Ano. 

Muito embora não tenha sido premiado, só pelo fato de ser indicado  já diz muito sobre a relevância de um trabalho conjunto de mulheres que já tem quase 1 ano de existência. Diz muito para um projeto criado durante a pandemia e que coloca a arte de inúmeras artistas talentosas em evidência, contribuindo para um cenário menos desigual, e mostrando que sim, nós somos e estamos fazendo a mudança que queremos ver no mundo. 

Além das lives 

A pluralidade de estilos e gêneros da música é marca registrada do coletivo, afinal de contas, estamos falando também da pluralidade das mulheres que participam, e que expressam um pouco de suas essências através dos decks. Da música eletrônica à música brasileira, o espaço é todo delas e para elas. 

E esse trabalho vai muito além de transmissão de lives. O objetivo maior é questionar a indústria, as esferas que são praticamente inteiras controladas por homens, de donos de festivais a curadores de line ups de clubs e eventos, e discutir alternativas para que a cena seja mais igualitária. 

Além disso, a construção dessas redes também abre portas para uma realidade promissora: mulheres cada vez mais fazendo parte desses ambientes de poder. Esses grupos desenvolvem potencialidades em diversas áreas, e disso podem surgir mais produtoras culturais, mais artistas, mais eventos; e ainda que os paradigmas a serem quebrados sejam muitos, as mulheres estão começando a girar a roda que movimenta esse mercado e somando forças para que o reconhecimento vire rotina. 

História

Luta, transformação, revolução. A trajetória da UH!Manas em seu quase 1 ano de existência traz uma bagagem muita rica e cheia de experiências que nada mais justo que passar a palavra para quem faz acontecer: Iasmin Ribeiro – uma das idealizadoras, estilista, DJ e colecionadora de vinil – e três artistas incríveis da cena eletrônica: Ella de Vuono, Linda Green e Lisi. Confira!

Iasmin Ribeiro é uma das mentes por trás do Uh!Manas TV. Além de ser colecionadora de vinil, a artista é DJ e busca enaltecer o Rap Nacional.

Iasmin, conta um pouco pra gente de onde surgiu a ideia de criar o coletivo.

A Uh!Manas surge em 7 de julho de 2020 em meio ao contexto pandêmico que ainda vivemos, onde o setor cultural foi diretamente afetado, muitos cancelamentos e suspensões de trabalhos; com isso as lives se tornaram a saída para artistas e produtores desenvolverem seus trabalhos em especial DJs e produtoras culturais. Mas como toda luta feminista surge a partir da dor, mesmo diante de toda essa suspensão que a pandemia trouxe, os eventos online seguiam com line ups em sua maioria composta por homens, seguindo todo o protocolo patrialcal da nossa história.

Diante dessas situações e a partir de um bate papo na twitch sobre “Mulheres na Cultura da Discotecagem”, nos reunimos no zoom para discutirmos possibilidades de criação e ocupação desses espaços, romper com esses ciclos patriarcais em buscar equidade não só na discotecagem, mas na cena cultural de maneira geral. A partir dessa reunião firmamos nossa primeira data que foi terça feira, 07 de julho de 2020 na twitch.tv. Fizemos nossa primeira programação online com mais de 12 horas de duração com lives de discotecagem e beatmakers em formatos e estilos diversos, na semana seguinte já estávamos com 3 dias de programação online, na terceira semana já havíamos ocupado todos os dias da semana e éramos mais de 100 mulheres de diversos estados e países, realidades e gerações, um encontro realmente marcante e intuitivo.

Tudo aconteceu no boca a boca, uma mana chamando a outra, e assim fomos rompendo barreiras e aproveitando o melhor que a internet pode nos oferecer: que não há limites de estado ou país, podemos nos conectar com qualquer mulher do mundo! Com um mês de existência na UH!Manas TV fez uma semana de programação 24hs na twitch. A qualquer hora tinha uma mana do coletivo online. 

Mas para toda essa estrutura funcionar a Uh!Manas criou frentes de trabalhos, processos e metodologias.

Quais impactos vocês acreditam que a UH! Manas TV tem gerado entre as mulheres na música e no mercado em geral até agora?

ELLA: Acredito que essa troca de contatos fez com que muitas profissionais se conectassem, fomentando mais a cena. Nós mesmas temos dificuldades de encontrar outras profissionais e agora, é só entrar no grupo do Whats App do UH!Manas e perguntar “Alguma mana aí de tal lugar do país interessada nisso? Ou pode me ajudar com aquilo?” e assim por diante. Eu que tenho 16 anos de estrada, nunca vi uma união tão grande entre as mulheres como estou vendo hoje, são diversos grupos e a rede de apoio tem crescido cada dia mais. O maior impacto, em meu ponto de vista, é a fomentação mesmo e isso só tende a crescer.

IASMIN: Acredito que primordialmente a Uh!Manas passou a ser um ponto de encontro, identificação e acolhimento entre mulheres. Com apenas 9 meses de existência tivemos indicações em dois prêmios expressivos no mercado da música: o WME Women’s Music Event na categoria Inovação na Web, além de 3 indicações individuais de manas do coletivo na categoria Melhor DJ, e na SIM São Paulo na categoria Projeto do Ano. Sem dúvidas, nosso coletivo tem sido visto e impactado o mercado, ocupando e criando espaços para mulheres no mercado da música, encorajando outras mulheres a desenvolverem seus trabalhos na cena musical, e para além da música, encorajar as mulheres a ocuparem seus espaços de desejo.

Mas pensando no mercado o impacto são as curadorias e lineups que a Uh!Manas têm feito parte ou servido de ponte para participação de integrantes em eventos individualmente, além de gerar registros de mulheres DJs e produtoras, já que muitas relevantes na história são esquecidas por falta de registros.

LINDA: Ao meu ver, a maior colheita foram as conexões entre mulheres do Brasil todo, a rede de contato que se formou e alguns laços que se fortaleceram. Um coletivo tem mais força para alcançar visibilidade que artistas na sua individualidade. Eu tenho ciência que algumas integrantes conseguem complementar a renda com as doações que acontecem nas lives. No mercado em geral de fato, ainda é cedo para fazer essa avaliação por conta da pandemia.

LISI: Para mim, que era a única mulher em line ups de festivais com 20, às vezes, 30 DJs homens, foi um impacto gratificante ver outras mulheres movimentando o cenário musical. Para nós mulheres, o espaço acolhedor e acessível da Uh! Manas TV é literalmente, como diz na mensagem de boas vindas, uma das portas de entrada para o desenvolvimento e fortalecimento pessoal e profissional de nós mulheres nessa área.

Digo isso, porque a Uh! Manas TV, por exemplo, me colocou em contato com profissionais incríveis do mercado. Minha lista de DJs mulheres que antes era pequena, hoje triplicou. Conheci projetos inspiradores e acho importante ressaltar o projeto da DJ Carlu de levar a discotecagem para crianças dentro da sala de aula (Disco e Brinquedo). Essa iniciativa me chamou atenção, porque, além de incentivar a cultura musical desde cedo, dá as meninas a representatividade de uma mulher nos decks.

Através da Uh! Manas TV também conheci outros projetos e DJs incríveis como a Jamila Martins da Escola Beatlife em MG, que hoje é minha parceira na Cultura Cosmo e assim, somos mais duas DJs tomando frente e girando a engrenagem do mercado também.

Por isso, eu vejo um impacto muito vantajoso no mercado em geral, porque quanto mais mulheres com o desejo de movimentar a cultura e o entretenimento, o mercado tem mais força. Acredito que todo mundo ganha, porque tem espaço para todo mundo e é mais representatividade para inspirar e motivar outras mulheres.

A UH!Manas inspira e movimenta não só promovendo a equidade, dando visibilidade para DJs, produtoras musicais e produtoras de eventos, mas levantando o questionamento de “Por que não as mulheres também ocupando essas funções?” Visto que o rolê super funciona.


Ter coletivos como esses é de extrema importância para que mais mulheres se sintam seguras em seguir um caminho neste meio e vejam que não estão sozinhas, seja como artistas ou produtoras etc. Vocês acham que existe algum tipo de medo por parte das mulheres em colocar a cara no mundo e questionar o machismo nessa indústria por muitas vezes não encontrar esse apoio?

ELLA: Claro que existe, que mulher que não tem medo de se posicionar? Tem as que se posicionam mesmo sentindo medo, mas esse sentimento nos acompanha em tudo. E esse apoio muitas vezes não acontece mesmo, já estive em uma situação que me posicionei em um post do Instagram questionando uma fala muito machista de um grande nome da discotecagem nacional em um dos principais sites da cena, e eu tive mais de 30 curtidas de mulheres, muitas bem famosas, no meu comentário, mas nenhuma se posicionou, nem comentaram se quer um coração. E este movimento de apoio é muito importante, imagina a cara do cara se várias minas começam a comentar ali alguma coisa, nem que seja um simples “apoiado!”? Mas por medo, a maioria ainda se cala. E eu acredito que, se tivéssemos certeza que sempre vai aparecer 2, 3 mulheres ali nos apoiando, esse medo um dia irá desaparecer.

LINDA: Da minha parte, foi muito intimidador à primeira vista, e a luta por um espaço foi cansativa e demorada. Isso há 7 anos atrás. Desde então, eu tenho visto número de mulheres DJs crescer exponencialmente dentro na música eletrônica alternativa, puxadas por grandes nomes nacionais e internacionais. Nesse meio tempo, eu vi espaços idealizados e ocupados por mulheres se formarem, o que foi determinante para isso acontecer. 

LISI: A descoberta da vontade de fazer parte desse mercado é, na maioria das vezes, ir em eventos. O networking estava limitado aos eventos. O trabalho é estar nos eventos. A nossa faculdade é na prática dos eventos. E, posso falar por mim, que eu já senti medo de ir para eventos sozinha, por exemplo. Quando eu penso nisso… é um absurdo, porque não basta a gente ser uma minoria gritante no mercado fonográfico, temos a esmagadora sociedade que não nos ajuda a sentirmos segura pela resistência em se afastar da cultura machista que, por sinal, faz mal também ao homem como ser humano.

Portanto, eu acredito que, sim, existe não só medo, mas aquela síndrome da impostora, onde acreditamos que não somos o suficiente ou capazes para colocar a cara no mundo.


Como vocês conheceram o projeto e como começaram a fazer parte dele?

ELLA: Foi através da Tata Ogan, logo nas primeiras semanas. Ela acompanhava minhas lives há alguns meses e eu as dela. Daí ela me mandou um sussurro (inbox/DM do Twitch) contando sobre o projeto, topei na hora, entrei e nele estou participando e colaborando como posso. 

LINDA: Logo na formação do primeiro dia de programação, a Tata Ogan entrou em contato comigo, sabendo que já vinha fazendo lives na twitch, e me convidou para fazer parte. 

LISI:   Eu vi o logo pela primeira vez em uma live da Carla Elektra que já se apresentava no coletivo e foi ela mesma que me colocou em contato com a Geysa Spinelli para preencher um horário na sexta-feira. Isso foi em outubro de 2020 e, inclusive, era o horário das 19h que eu tenho marcado até hoje com o coletivo: sexta-feira às 19H.

Na opinião de vocês, o que falta para que mais mulheres ocupem espaços de poder na música?

ELLA: Nossa! Taaaanta coisa, nem sei por onde começar. Primeiro que o problema é estrutural, já vem de quando nascemos. Somos condicionadas a acreditar que nosso futuro é ser mãe e dona de casa. É só você reparar nas lojas de brinquedos, enquanto na seção das meninas só tem fogãozinho, bebê, panelas, ursinhos; na dos meninos tem videogame, caixa de ferramentas, instrumentos musicais. Só nisso já começamos bem atrás, daí depois existe uma luta gigantesca para conquistar espaço e respeito. Quantas vezes não vimos mulheres com um nível técnico elevadíssimo que quase ninguém conhece e vemos um homem que sabe fazer um básico, levanta as mãos pra cima e tá aí com milhões de seguidores? Quando a quantidade de mulheres numa sala de aula de um curso de discotecagem (produção, etc) for igual a de homens, daí estaremos no caminho para ocupar mais espaço. Mas estamos apenas começando ainda, o UH!Manas faz parte deste começo.

LINDA: Essa pergunta é um pouco complexa, porque a falta de mulheres ocupando espaços de poder não se limita ao mercado da música e sim por conta do patriarcado e desigualdades de gênero. É uma luta social que abrange todos as carreiras profissionais. Eu vejo que um caminho são os espaços construídos por mulheres e para mulheres, mas ainda dessa forma, existe uma resistência do mercado no geral em reconhecer e validar essas iniciativas. 

LISI: Vou contar um fato: eu tenho a Cultura Cosmo, que se desenvolveu muito com apoio do coletivo da Uh!Manas dentro da Twitch, e é uma plataforma/comunidade para DJs, produtores musicais e produtores de eventos também com o objetivo de construir uma nova cultura de arte e entretenimento fortalecendo a harmonia, a equidade e a espiritualidade no mercado fonográfico, focando na música eletrônica. Mas é um projeto misto.

Quando chegou o momento da expansão do nosso universo, eu falei para meus dois parceiros (Ricardo do projeto Zomero e Jamila da Beatlife) que para cada um homem que entrasse na comunidade, era necessário pelo menos uma mulher também.

Na nossa primeira expedição (como chamamos nossas reuniões gerais), nós éramos 26 pessoas, sendo apenas 8 mulheres… Não sei bem o que houve, mas solicitando outra reunião “de emergência” eu falei o seguinte: “Gente, eu não quero ser o que a gente encontra em toda esquina: um line de 30 homens e 1 mulher. Pode nos custar mais tempo, pesquisa e energia, mas vamos resgatar as mulheres DJs e Produtoras que se interessem. Assim, mudamos a direção da roda. ”

Acredito que exista muita gourmetização no mercado que fortalecem a nossa síndrome de impostora e pouca orientação natural para desenvolvimento profissional, então acho que o começo para mais mulheres ocuparem esses espaços é a criação de oportunidades e incentivo. Ações como faço dentro da Cultura Cosmo e no coletivo Uh!Manas TV, de ver uma DJ e Produtora e trocar uma ideia para lançar o convite é um estímulo para quem tem vontade de entrar na área. Tenho certeza que a entrega vai ter qualidade quando há vontade e não precisa ser perfeito justamente, porque a gente desenvolve nossa carreira no processo.

O projeto conta com artistas de várias partes do Brasil e do mundo, com anos de experiência e dos mais variados gêneros. Quais fatores vocês consideram serem preponderantes para a invisibilização do nosso trabalho tanto na discotecagem quanto na produção cultural?

ELLA: Tudo isso que eu falei na resposta anterior mesmo: é estrutural. Discotecagem, produção… Isso é coisa de homem. Então é preciso que a sociedade comece a quebrar essa barreira para tudo.

IASMIN: O principal fator é ser mulher inserida numa construção social patriarcal e eurocêntrica, onde o homem branco é o detentor do anel do poder; onde a misoginia, xenofobia e o racismo são validados pelo Estado. Toda essa estrutura corrobora para o apagamento, redução e apropriação das mulheres e suas corpas ao longo da história, por isso, ser mulher é um ato político, de resistência, porque capacidade e talento entre as mulheres é o que não falta, o que falta é espaço, o que falta é dividir o anel do poder. E assim seguimos ocupando e criando esses espaços em busca de equidade e diversidade.

LINDA: Patriarcado. 

LISI:  Atualmente, se tu chutares uma árvore caem 50 DJs homens, então é muito mais fácil escolher entre aqueles 50 DJs do que olhar pra cima e ver que tem uma DJ mulher ali querendo amadurecer ou pronta para cair. Acho que um dos fatores para isso, basicamente, é essa analogia.

Em menos de 1 ano vocês foram indicadas para duas premiações importantes: a Women’s Music Event, na categoria Inovação na Web, e Projeto do Ano, na Sim São Paulo. Como é ver esse reconhecimento em tão pouco tempo?

ELLA: É um misto de surpresa com “já esperava” hahaha. Mas é verdade, porque quem está dentro do projeto, acompanhando de perto todo o corre, não tem como não achar que esse tipo de reconhecimento viria. Veio rápido, mas na verdade, não, pois a maioria das mulheres envolvidas estão há muitos anos na estrada, buscando reconhecimento, tem muita experiência envolvida. É que com a nossa vida toda online, tudo ficou muito mais acessível e fácil de se descobrir. Esses reconhecimentos são motivações que mostram que o projeto está no caminho certo e, com certeza, dá aquele gás para a luta continuar.

IASMIN: Todos esses retornos positivos e de reconhecimento que a Uh!Manas vem tendo são frutos de muito trabalho e dedicação de muitas manas que acreditam no coletivo e no papel político e social que ele tem. Também nos mostra o quanto somos potentes e que juntas somos muito fortes! Reconhecimento como esses só nos confirmam que estamos no caminho certo, que estamos ocupando esses espaços que nos foram tirados, estamos criando um legado, abrindo caminhos e gerando identificação para outras manas que estão por vir.

LINDA: De fato, o coletivo teve um poder de organização e de agregar integrantes gerado por um objetivo comum que era a geração de espaço e formação de público e audiência. Os resultados foram colhidos com rapidez e bem aceito pelo público e eu não vejo tantas iniciativas com o mesmo sucesso e alcançando tantas pessoas quanto a Uh! manas 

LISI: Eu me sinto muito orgulhosa de fazer parte desse movimento e não canso de dizer que me sinto muito motivada. Essas conquistas são uma revolução e a prova de que somos mais do que capazes de entregar conteúdo, pesquisa, programação e entretenimento de qualidade.

Quais os próximos passos da Uh!Manas de agora em diante?

IASMIN: Seguir com a nossa programação diária na twitch.tv, expandir nossas conexões e conteúdos para além da plataforma, escrevendo projetos futuros, sempre com as mulheres no protagonismo. Estamos nos aproximando do aniversário de um ano da UH!Manas TV, temos como plano colocar nosso site no ar, trazendo informações mais detalhadas do coletivo, das integrantes e suas trajetórias individuais e o nosso manifesto.

E quando finalmente estivermos vacinadas, poder promover festivais simultâneos em diversos estados e países, ocupar curadorias de grandes festivais e eventos. 

O UH!Manas segue na luta para além da programação na twitch tv; O Uh!Manas é um movimento político em busca de equidade, é “A Revolução Feminista Discotecada”.

Experiências de mercado

A gente não pode finalizar esta matéria sem antes aprender mais um pouco com a jornada de Ella De Vuono, Linda Green e Lisi, grandes artistas que, juntas, somam 30 anos de experiência! Bagagem é o que não falta, portanto, vamos compartilhar um pouco os degraus subidos de cada uma até aqui.

ELLA DE VUONO

Foto: Divulgação

Com uma personalidade artística singular, Ella já conta com 15 anos de carreira, muita atitude e irreverência nos decks. Ficou conhecida por aliar repertório, feeling e muita técnica em suas apresentações entregando sets sempre versáteis, além de pinturas corporais – que virou sua marca registrada. Conquistou o primeiro lugar do Burn Residency em 2019 e é residente de uma das festas mais conceituadas de São Paulo: a Carlos Capslock.

Você conta com mais de 15 anos de carreira e não podemos deixar de perguntar: como construir uma personalidade única na cena eletrônica?

Muita terapia! É preciso ter um olhar muito atento para entender quem nós somos, como queremos ser enxergados e qual mensagem queremos passar. Foram muitos anos de terapia, que faço ainda hoje, para buscar aqui dentro o que eu quero transbordar, e é necessário muita coragem para ser quem se é, pois a sociedade já tenta nos colocar dentro de um padrão logo que nascemos: meninas tem que vestir rosa, vestido, laço de fita, não pode jogar futebol, tem que ter cabelo comprido. Na escola somos condicionados a sermos: engenheiras, médicas, advogadas. Não há espaço para sermos aquilo que quisermos ser.

Então se você realmente quiser ser uma doutora, o caminho foi feito para você. Mas se quiser ser artista, é uma batalha eterna e a rejeição faz parte do nosso dia a dia. Somos todos únicos, mas por medo, preferimos nos enquadrarmos em um padrão facilmente aceito, por isso a terapia é muito importante, pois ela ajuda a olhar para dentro e entendermos o que funciona para nós, para então saber o que vai funcionar lá fora. Porque uma vez que faz sentido para nós, fará sentido para as outras pessoas também.

Quais as principais mudanças que você vê neste mercado desde quando você começou até agora, principalmente quando falamos no contexto de artistas mulheres?

A união entre as mulheres, que já citei acima. Pelo fato de sermos condicionadas a pensarmos que o topo não nos pertence, quando uma chega lá, o instinto é proteger aquele lugar, pois se outra mulher lá chegar, quer dizer que seremos substituídas, quando na verdade, não. Então, faz pouquíssimo tempo que comecei a receber apoio de mulheres na cena, isso foi algo que começou a acontecer tem, quando muito, 2 anos. Outra mudança que eu vejo é a profissionalização do mercado. Quantos cursos existem hoje! Quanta informação! Antes, para ser DJ ou produtora, a gente tinha que comprar equipamentos e sair fuçando, pedir ajuda para algum amigo que também aprendeu fuçando ou com outro amigo. E bom, como falei antes, os coletivos de mulheres, né? Mulheres se ajudando, se apoiando, é algo muito novo e muito saudável para a cena em um todo.

Ao longo desses anos você se deparou muito com a insegurança? Como driblar isso?

Nossa, muito né? É preciso ter muita motivação e apoio da família desde sempre para não ter insegurança, coisa que eu, como a maioria, não tive. A única forma de driblar, realmente é estudando, entendendo de fato o que você está fazendo, sendo o mais autônoma possível. Quem me vê tocar hoje, não acredita, mas eu tive muita dificuldade de aprender, cheguei a pensar que não era capaz.

E foram tantos os olhares, a desconfiança, cada homem que ficava ali em volta para “me ajudar” a fazer o meu trabalho, que eu fui estudando muito (e estudo até hoje), a ponto de não causar mais nem esta desconfiança, pois eu sou tão confiante de mim, eu sei exatamente tudo o que vou fazer, não apenas da técnica da discotecagem, mas da seleção musical, das conexões do equipamento que uso, se o estado de conservação do equipamento está adequado, dos limites de volumes do sistema de som, de dinâmica acústica do local, etc. Então a partir do momento que dominamos algo, não temos mais insegurança, pois sabemos tudo a respeito daquilo.

Você disse em uma entrevista que a sua maior característica é a ousadia. Você acha que falta a gente ousar mais, quebrar padrões para conquistarmos nosso espaço?

Eu acho que isso falta em um todo. Não é sempre que aparece uma Rita Lee, um David Bowie, uma Bjork, Madonna, Nina Simone ou um Sylvester por aí. É muito louco isso, pois a gente sempre busca aquele lugar diferente, aquela bebida nova, aquela comida que nunca experimentamos, mas quando chega a nossa vez, somos cópia de algo que já existe. Temos que ter nossas referências, mas não copiá-las. E o erro está nisso, em não saber a diferença entre inspiração e cópia. Quando eu penso “não vejo muitas pessoas fazendo isso ou curtindo esse som” é aí que eu faço. Eu não penso no quão popular tem que ser meu som, na quantidade de plays que tem que ter, eu apenas preciso gostar dele. E se eu gostar, com certeza mais pessoas gostarão, não sei quantas, mas quem gostar, vai ser por aquilo que eu acredito ser essencial: a música e nada mais. Em tempo: quero ser popular e ter milhões de plays? Sim. Mas que seja pela música.

Na sua opinião, o que mais precisamos para que o meio eletrônico seja mais igualitário?

Primeiro, como eu já falei, que a nossa sociedade seja mais igualitária em um todo. Talvez a mudança que seja mais urgente é na cabeça de quem está no topo da cena, dos fomentadores, curadores de festivais, clubs e conferências. Por quê fazer um line up com 5 headliners (rapazes brancos, heteronormativos, jovens) que atingem exatamente o mesmo público, gastando milhões de reais em cachê e não fazer um line up, sei lá, com 3 destes nomes e outros 2 mais intermediários, que têm um trabalho consistente mas ainda não são tão populares? De preferência que não sigam esse padrão estético. Está na mão dos curadores mostrar novos nomes para a galera, mas o que vemos é uma curadoria viciada, sempre naqueles que são super ticket sellers ou naquelas trocas de favores e contatinhos. São poucas as curadorias que ousam, a maioria joga de forma segura, mas não vê que colaboram para o monopólio de uma cena que nasceu exatamente do oposto disso.

Quais aprendizados você considera os mais importantes ao longo desses 15 anos de carreira?

Que só 10% é talento, 90% é muito estudo, trabalho duro, consistência e comprometimento. Que conhecimento é fundamental, podemos ter pessoas trabalhando para nós, mas precisamos entender exatamente como é o trabalho que ela faz ou deveria saber, para não cairmos na mão de aventureiros falastrões que acham que entendem do assunto e só nos enrolam e atrasam a vida. Tem muita gente no mercado que diz que faz coisas que nem mesmo ela sabe o que é, então nós temos que entender do nosso business para já logo de cara detectar um oportunista desses. Aprendi isso a duras penas, acreditem.


Pra fechar: quais conselhos você daria para as artistas que estão buscando conquistar seu lugar ao sol na música eletrônica?

Conhecer a história da música eletrônica é fundamental para começar. Imagina um pianista se apresentar no Carnegie Hall sem saber quem foi Mozart? No entanto, há alguns DJs/produtores que se apresentaram no Tomorrowland sem saber quem foi Frankie Knuckles ou Kraftwerk. Não seja essa pessoa. É muito importante ter consciência que as pessoas vão te seguir, você será uma referência, então entenda que as coisas que você fala ou faz, motivam outras pessoas a fazê-las. Então, que sejam coisas para acrescentar algo de bom nesse mundo.

É sobre a música, a arte que você faz e o impacto que isso tem nas pessoas, nunca é sobre você alecrim dourado. Cobre sempre pelo seu trabalho. Faça tudo com contrato assinado, a maioria das pessoas não dão o menor valor para a palavra delas. Fuja da mediocridade. O estudo é eterno, se você está nesta profissão e não está estudando, então você está ficando para trás. E poderia continuar falando, hein? Mas isso já dá para começar.

LINDA GREEN

Foto: Facebook

Linda Green iniciou na discotecagem quase que por um acaso, quando foi convidada por um amigo a tocar em uma festa sem nem saber como fazer isso. Hoje já soma quase 7 anos de carreira e passagens em grandes festivais como o DGTL, com sets autênticos que passeiam pelo House, Electro, Disco e Dark Wave.

Você disse no seu Instagram que desde 2007 tinha vontade de ser DJ mas faltava coragem. O que te impedia naquela época de tentar?

Na época, eu só conhecia uma menina DJ e mais nenhuma. Eu já trabalhava em festas de música eletrônica e tinha muitos amigos do meio. O acesso a equipamentos na época era muito restrito e caro.  Foi uma mistura de falta de exemplos a serem seguidos e falta de acesso.

Sua trajetória já conta com 6 anos de estrada. Quais aprendizados você considera os mais importantes até aqui?

Daqui a um mês, já serão 7 anos. Foram 2 momentos, o primeiro quando eu tinha um trabalho diurno que era minha fonte principal de renda e o segundo que ser DJ era minha renda principal. Um aprendizado muito importante nessa caminhada foi como encarar uma profissão tão atrelada a minha imagem pessoal e não deixar isso me afetar. É muito importante manter uma boa rede de contatos com os colegas de trabalho, outros DJs e produtores, encontrar aliados no caminho, apoiar e valorizar o trabalho de outras pessoas tanto quanto queremos que o nosso seja valorizado. Encarar como uma carreira, que não acontece do dia pra noite e ter consciência que com o tempo nosso trabalho vai ficando melhor e não se deixar acomodar. O mais importante, não colocar o próprio ego em primeiro lugar e deixar se perder a humildade. 

E quais foram os maiores desafios?

Em primeiro lugar, aprender a técnica, levou anos de aperfeiçoamento e sigo aprendendo coisas novas. Depois disso, construir uma auto estima e auto confiança em cima da minha identidade artística. A importância dessa construção é conseguir filtrar críticas e como olhar para isso. Não importa o quão competente o profissional é, o quanto estude, por mais que seja perfeccionista, uma expressão artística sempre vai ser alvo de críticas porque passa pelo gosto de outras pessoas. Saber não dar ouvidos para críticas e ter a noção que a gente nunca vai agradar todo mundo. O mais importante é estar feliz e satisfeita com a gente mesmo.

Em algum momento você sentiu que teve seu trabalho questionado apenas por ser mulher? Como lidar com isso?

Continuando a resposta anterior, já sofri muitas críticas, minha sensação que as mulheres sofrem críticas com mais intensidade e mais crueldade que os homens. Como eu disse, o único jeito de lidar com isso e saber não prestar atenção nas pessoas que querem colocar nosso trabalho pra baixo e se focar em si mesmo. 

Você sempre marca presença constante em clubs, festas e festivais importantes como o DGTL. Com toda sua experiência, quais requisitos você acha que uma artista precisa para fazer parte de line-ups como esses?

Essa pergunta é complexa. É claro que o esforço pessoal, estudo, pesquisa musical, técnica são essenciais, mas, da mesma forma, ter uma boa rede de contatos ligada a esses eventos é muito importante. Estar presente em festas e e eventos onde se quer tocar, procurar conhecer outras pessoas do meio, não ter medo e nem vergonha de pedir pra tocar. Tudo é uma construção e leva tempo para acontecer.

Quais conselhos você daria para as artistas que estão buscando conquistar seu espaço na cena?
Persistência, paciência e dedicação.

LISI

Lisi possui uma bagagem de experiências e premiações com mais de 8 anos no mercado como DJ, produtora musical e produtora de eventos. Marca presença constante em vários eventos no Rio Grande do Sul, tanto como DJ quanto como produtora realizando eventos. Fundadora da Cultura Cosmo, Lisi é daquelas artistas que somam, movimentando a cena eletrônica dando suporte também a outros artistas e compartilhando conhecimento!

Quais foram os maiores desafios enfrentados até agora?

Para mim, com certeza o desafio maior foi o parar de pensar demais nas coisas. Eu sou uma pessoa com muitas ideias e muita vontade de grandes coisas, mas, de alguma forma, durante algum tempo tive dificuldade de me entregar por inteiro na concretização dessas ideias.
    Muitas vezes, eu questionava minha capacidade e força de fazer as coisas acontecerem sozinha. Às vezes, ao invés de agir, ficava dias pensando em tudo o que podia dar errado para já estar preparada kkk A quebra de crenças limitantes e extremistas do tipo: “Deu tudo errado, está tudo perdido” também foi um desafio para mim. Felizmente, aprendi, e aprendo todo dia, a respeitar minha realidade e a mim mesma, então tudo fica mais leve e, claro, sai do papel.


Desde o início da sua carreira até agora, você acredita que muitas vezes existe uma autocobrança excessiva da nossa parte por causa do cenário machista? Como lidar com isso?

    Sim, com certeza. Não sei dizer se comigo foi o machismo em si, mas um dos meus maiores desafios, como eu falei, foi enfrentar a autocobrança. Eu acredito que exista uma pressão a mais sob nossas cabeças para “não dar motivo” para as pessoas falarem. Porém, elas sempre falam, né?
    Então a melhor maneira que eu vejo de lidar com isso é o autoconhecimento para compreender que não existe certo e errado, e sim, o melhor e o que faz sentido para gente; O auto respeito também é importante tanto quanto a humildade de aceitar que o desenvolvimento está no percurso.


2020 pra você foi um ano de bastante aprendizado. No seu Instagram você disse que foi a coragem de acreditar e olhar para si que fizeram você se desenvolver profissionalmente. O que te deu esse start e como isso influenciou seu trabalho?

   Acredito que meu start foi em junho de 2020, logo depois do Ciclone Bomba passar em Santa Catarina. A situação estava (ainda está) um caos e, se não bastasse o covid, veio um Ciclone para prejudicar ainda mais o contexto das pessoas. Isso me sensibilizou e fez com que eu não pensasse muito e só agisse.

    Mandei mensagem para todos os DJs que eu havia conhecido na pandemia e estavam fazendo lives, organizei um Festival Solidário chamado #Hálivesquevemparaobem em 4 dias em um formato televisivo e entrei em modo automático.

    Quando todo evento passou e tudo aconteceu como tinha que acontecer, eu percebi todas essas questões que mencionei anteriormente: O autoconhecimento, o auto respeito e a humildade e nessa hora, as coisas mudaram pra mim. Caiu a ficha.
Me senti mais leve e autoconfiante para reconhecer meu estudo constante e aceitar que  “esse é o melhor que posso entregar hoje”. Isso deu um ‘boom’ de 10000% em tudo o que eu faço hoje, porque consigo estar mais centrada no meu objetivo e recursos, e menos no que a sociedade tenta me impor.
    Dou meu melhor com as ferramentas que tenho, mas não deixo de fazer. Não deixo oportunidade passar. Só vai…

Quais conselhos você daria para as artistas que estão buscando conquistar seu espaço na cena?

   Primeiro, invistam no autoconhecimento diário e no exercício de não se cobrar tanto. Se questionem “O que faz sentido para mim hoje?”. Segundo, criatividade, pra mim, é girar a roda com os recursos que a gente tem naquele momento, então observe as coisas que você tem e botem a cabeça para funcionar de como vocês podem usar elas. E terceiro, o que eu também falo na Cultura Cosmo sempre: se movimentem, ajudem a movimentar e se deixem ser ajudados a movimentar, mas não fiquem parados esperando a situação ideal, o momento ideal, o equipamento ideal…